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Mostrando postagens de março 31, 2019

Indigentes

Podiam ser ouvidas de muito longe, choros de criança, duas, três, quem sabe até quatro, ou talvez cinco, não sei dizer muito bem. Pareciam tristes e famintas. E eu não podia fazer nada. Apesar de tão próximo eu estava ao mesmo tempo tão longe. Distante por não saber onde estavam e o pior de tudo por não saber o que fazer. Procurei pelas chaves por todo apartamento e só fui encontrar no lugar menos provável, a geladeira. Sim, meu molho de chaves estava metido dentro do refrigerador, enfiado dentro da gaveta dos legumes e esses já estavam cheirando azedo. Peguei tudo aquilo quase vomitando, botei dentro de uma sacola de mercado e joguei pela janela; foda-se, vizinho algum ia notar, aquele prédio era uma merda mesmo. E os choros não paravam. Então sai pelo prédio a procurar. Passei na porta de outras residências e nenhum sinal de choro, muito menos de crianças. O que conseguia ouvir era somente o som das televisões ligadas e ver a sombra de pessoas andando dentro dos apartamentos,