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Mostrando postagens de junho 9, 2019

Adeus, mamãe

Crédito: mensagenscomamor.com Meti meus dedos em seus cabelos, tão poucos e fracos, e segurei em sua mão; tão frágil e quase sem vida, você estava indo. De camisola, deitada na cama me olhou, com seus olhos fraquinhos que forçavam apenas para ver os rostos magros de seus familiares. Seus braços outrora fortes capinavam o mato que crescia teimoso em volta da cerca, e suas pernas faziam você correr atrás da gente e das galinhas, essas que eram servidas em uma panela grande com batatas cortadas e cenouras em rodelas finas. Mas você estava ali, prostrada, esperando pelo fim. Na cabeceira da cama um retrato da família; papai e mamãe. Você de vestido e ele de calças compridas e uma camisa xadrez, com uma gravata pendurada no pescoço; e nós seus filhos, de calças curtas e descalços, com os pés pisando na terra e com as solas sujas de tanta felicidade. Estávamos todos lá, com exceção de papai, morto numa emboscada armada por um vizinho sem coração. Mamãe sofreu demais com isso. O barul

Mesmo depois de morrer

CRÉDITO: fatosdesconhecidos.com.br Eu vi do alto daquele prédio aquela jovem se atirar. Enquanto seu corpo voava, de cabeça para baixo, rumo à morte, meu coração disparava de prazer. Há. Como é divertido ver o fim da vida de alguém chegar, ainda mais sendo do jeito que foi; com o corpo estraçalhado na calçada e com sangue salpicando nas paredes e nos carros estacionados no meio fio. Lentamente fui descendo as escadas e formulando em minha mente todo o cenário. Pessoas ao redor, com olhares de espanto e admiração; uns tirando retratos e alguns virando seus rostos pelo horror que o ocorrido se mostrava. Era uma adolescente. De cabelos loiros, olhos verdes, com semblante cansado. Estava com uma saia curta, de cor preta, e uma camiseta branca tingida de vermelho sangue. Cheguei à calçada e pedi licença. A moça estava caída de bruços, sua cabeça estava virada do avesso e seus olhos me olhavam como se pedissem misericórdia. Mas eu não tenho compaixão desse tipo de gente. Pois elas mere

Lembranças lá de casa

Credito: youtube.com   Lembra-se da gente no supermercado? Entre latas de molhos e de ervilhas, entre tomates e abobrinhas, e entre biscoitos e bolachas, pois eu não sei e pouco me interesso em saber qual é o correto a se dizer. E os discos de vinil? De artistas variados e de capas gritantes, de caveiras a rostos coloridos, tudo junto e misturado num só ritmo, num tom alucinante. E o carrinho de compras era o nosso possante, de direção firme e rodas pequenas. Montávamos nele e dávamos impulso com os pés e transformávamos os corredores em pista de corrida, a mãe ficava doida com a gente. E as pessoas nos olhavam. Poucos riam, muitos achavam um absurdo uma mãe deixar duas crianças fazendo o que quisessem, mas não era bem assim, a gente desobedecia mesmo; no entanto, depois de tanta peraltice e malcriação éramos brindados com um churro com recheio de doce de leite. E as compras eram colocadas na porta- malas, comida separada dos produtos de limpeza. E então nós íamos embora, eu no b