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Na janela.

Abro a janela do meu quarto e vejo o vizinho do outro lado da rua, na casa dele, bem à vontade, de bermuda e sem camisa; meu coração dispara. Observo aquele corpo lindo e bem feito enquanto tento organizar as ideias na cabeça. Não sei o nome dele. Só sei que é casado, que pena, e não tem filhos. O meu vizinho é moreno, cabelos curtos cortados a maquina, barba desenhada, simplesmente um espetáculo de homem. Meu nome é Aline. Eu tenho vinte e seis anos, ele deve ter a mesma idade, ou quem sabe um pouco mais. O safado vive de bermuda e sem camisa, e aos finais de semana chego a ver o sem-vergonha só de cuecas, que maravilha meu deus! Passo os dias imaginando aquele macho na minha cama, me fazendo ser uma vadia, uma puta pra ele, coisa que eu duvido que a mulher dele, aquela loira aguada e sem graça faça. Ele não trabalha, só cuida da casa, o porquê, eu não sei. A esposa dele sai cedinho antes de sair o sol, de bolsa pendurada no ombro e vestida num uniforme horroroso. Um terninho
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Assim morreu meu pai./ Meu neto goleiro.

CREDITO: bloglikeaman.com Vi meu pai morrer quando eu tinha apenas sete anos de idade e ele pouco mais de quarenta. Estava na rua de casa, brincando com outras crianças, algumas da minha idade, tantas mais velhas e mais novas. Jogávamos futebol. Nossa bola era feita de meia, costurada por uma das vizinhas. Eu era o goleiro. Ficava posicionado em frente ao gol feito de pedras de paralelepípedo, esperando os chutes que viriam em minha direção. Vi meu pai chegar a casa. Era a hora da pausa para o almoço. Ele vestia terno cinza claro, chapéu da mesma cor e também usava gravata. Mamãe o aguardava em frente ao portão, de avental amarrado na cintura, manchado de molho de tomate. Um beijo no rosto e meu pai entrou. Sentou-se na ponta da mesa. Mamãe o serviu. Em seu prato havia arroz, feijão e carne ensopada; dava para ver as batatas cozidas e o chuchu nadando naquele molho suculento. Após a refeição papai foi até o quarto e lá se deitou. Todos os dias antes de retornar ao trabalho ele

Espelho: A descoberta do amor e da verdadeira amizade.

Murilo viu sua imagem refletida no espelho e se assustou. Sem a camiseta e vestindo apenas a calça do uniforme da escola percebeu uma espinha próxima do nariz, ela era horrível. Seu coração disparou só de pensar nas piadas que ouviria caso os outros garotos do colégio vissem seu rosto naquele estado. Apavorado tateou na gaveta algum creme, pomada, enfim, qualquer coisa que servisse para tirar aquilo da cara, mas não tinha. Na gaveta apenas uma escova de cabelo suja, uma caixa com grampos e um vidro cheio de cotonetes. Nos armários nada além de pasta e escovas de dente, sabonetes e desodorantes; abaixou-se para olhar na parte de baixo, mas ali só encontrou toalhas; estava frito caso não resolvesse o problema. Olhou-se no espelho mais uma vez e mais e mais. E a cada olhada parecia que a espinha aumentava de tamanho e mudava de forma; um alienígena parecia querer nascer, e isso deixou Murilo aterrorizado, não havia outra maneira senão usar da maneira casual, os dedos. Com as mãos trêm

Eu amo a minha filha

CRÉDITO: es.123rf.com - Venha pai, o sol está se pondo! - Disse minha filha aos berros, enquanto eu caminhava com certa dificuldade em sua direção. Ali está ela, os cabelos balançando contra o vento e os últimos raios de sol batendo em seu rosto. Minha filha era tudo pra mim, minha companheira, confidente, conselheira, melhor amiga; até parece que tínhamos a mesma idade, no entanto, a diferença era grande, afinal éramos pai e filha. Minha menina nasceu prematura, numa gestação que duraram sete meses, infelizmente a mãe, o grande amor da minha vida, morreu durante o parto. Os primeiros meses foram complicados. Tive que abandonar meu emprego só para me dedicar única e exclusivamente para a minha filha. E não me arrependo. Até parece que tudo aquilo aconteceu de propósito, coisas do destino. Lembro-me do dia em que ela segurou pela primeira vez a minha mão. Ela estava dentro da incubadora lutando pela própria vida, o corpinho frágil cheio de fios, a respiração fraca, mas a mãozinh

Marina

CRÉDITO: ciberia.com.br Sua saúde estava frágil havia muito tempo. Deitada em sua cama, Marina esperava pelo provável, a morte. Trancada consigo mesma ela pôde lembrar-se de sua juventude, dos dias de mocidade e de sua paixão pela dança. Como eram bons aqueles momentos, em que ela desfilava toda sua audácia como dançarina e era disputada pelos homens, todos sem exceção gostariam de ter com ela. Marina, que em sua mocidade tinha os cabelos loiros e agora na velhice, enferma, sustentava um resquício de cabelo, um sorriso sem graça e um corpo magro, parecendo uma caveira. Pobre Marina. Pobre dela. Viveu, porém, não foi feliz. Amou, mas nunca foi amada. Teve homens a seus pés, mas por puro interesse. Ninguém a amou como ela gostaria, Marina só foi usada. Com o passar dos anos ela só acumulou dentro de si, mágoas e rancores. E toda essa tristeza acumulada transformou-se em doença. Depois disso, Marina morreu para o mundo, mas não fisicamente. Quando tinha vontade de viver, ficava a vaga

Canção de ninar

CRÉDITO: medium.com Levantei bem cedo e vi o sol nascer bem lá no finalzinho do horizonte pelas frestas da janela. Fazia um calor tremendo e eu acordei suando mais do que tampa de marmita, não tinha jeito; era levantar e ir direto para o banho. Peguei roupas limpas, a toalha e um sabonete, o meu sabonete; na nossa casa cada um tinha seu item de higiene, tudo por causa de doença, mamãe morria de medo das tais das bactérias que ela um dia ouviu uma voz grande falar de dentro do rádio. Não tinha chuveiro, o banho seria num enorme tonel de madeira, o negócio era enorme mesmo, cabia eu e mais duas ou três pessoas dependendo do tamanho. E ali eu me banhava, relaxei na água e quase adormeci, só não o fiz porque mãezinha aos berros me chamou e pelo susto que tomei quase fiz toda água se esvair pelo chão de terra do quintal. De machado na mão minha mãe estendeu a ferramenta para mim e também uma xícara de café que tomei num só gole. Lá em casa cada filho era responsável por uma tarefa,

Maldita tempestade

sonhosesimpatias.com Choveu tanto, mas tanto, que a roupa amanheceu molhada no varal. Tinha sido uma tempestade nunca antes vista; com vendavais capazes de arrastar pequenas cadeiras de quintais, e derrubar grandes árvores. O chão de terra batida havia se transformado em lama, tudo estava sujo. Geladeiras, mesmo colocadas no alto estavam cheias d’água, água suja que não podia ser reaproveitada. A enchente assustou a todos. Sempre chovia nessa época na cidade, mas com essas proporções era a primeira vez. As ruas estavam impregnadas de lodo, pessoas corriam tentando salvar o que fosse possível. Tinha gente carregando fogões, geladeiras, roupas; tinha gente carregando gente e gente empenhando-se para sobreviver em meio a tanto caos. Como eram tristes e desoladores estes cenários. Onde só se enxergava destruição e não se vê nem um pingo de esperança. Mangueiras eram esticadas e torneiras foram abertas. Jatos de água limpa, porém, fraca, eram jogados nas calçadas. Moradores esfregav