Levantei bem cedo e vi
o sol nascer bem lá no finalzinho do horizonte pelas frestas da janela. Fazia
um calor tremendo e eu acordei suando mais do que tampa de marmita, não tinha
jeito; era levantar e ir direto para o banho. Peguei roupas limpas, a toalha e
um sabonete, o meu sabonete; na nossa casa cada um tinha seu item de higiene,
tudo por causa de doença, mamãe morria de medo das tais das bactérias que ela
um dia ouviu uma voz grande falar de dentro do rádio.
Não tinha chuveiro, o
banho seria num enorme tonel de madeira, o negócio era enorme mesmo, cabia eu e
mais duas ou três pessoas dependendo do tamanho. E ali eu me banhava, relaxei
na água e quase adormeci, só não o fiz porque mãezinha aos berros me chamou e
pelo susto que tomei quase fiz toda água se esvair pelo chão de terra do
quintal.
De machado na mão minha
mãe estendeu a ferramenta para mim e também uma xícara de café que tomei num só
gole. Lá em casa cada filho era responsável por uma tarefa, a minha era cortar,
recolher e transportar a lenha, sem ela era impossível fazer comida ou
esquentar água e banho frio ninguém gostava.
A floresta era cheia de
gigantescas árvores, de pedras grandes e de animais assustadores. Às vezes
tinha medo de ir, mas precisava. Chegando lá me deparei com algo dependurado em
uma árvore, alguma coisa que girava sem parar, ia e voltava. Parei, forcei a
vista tentando ver se conseguia descobrir o que era, mas não dava. Então decidi
me aproximar e soltei um grito, meu irmão estava ali, com a corda no pescoço,
de sorriso no rosto e de olhos arregalados.
Corri o mais depressa
que pude. Chegando a casa minhas pernas tremiam, minha respiração era agitada e
a minha voz não saia de jeito nenhum; o máximo que fiz foi apontar o dedo para
uma direção, sair correndo e fazer mamãe vir atrás de mim. Minha mãe, pobre
dela, caiu de joelhos, as mãos puxando o avental para enxugar as lágrimas, na
garganta um grito preso que seria solto, no peito uma amargura, um sofrimento e
um fim sem explicação. À distância vi dois homens cortarem a corda e colocarem
meu irmão já sem vida no chão. Vi também minha mãe embalando seu filho mais
velho nos braços, cantando para ele uma canção de ninar e lhe dando um beijo no
rosto.
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