Eu caí em desespero. Vi
meus punhos fecharem e a minha garganta secar ao me deparar com aquela cena.
Ela estava morta, bem na minha frente. O corpo, caído ao lado da cama, todo
ensanguentado, a cabeça espatifada e os braços esticados, igual Jesus Cristo na
cruz. Não sabia o que fazer e como fazer. Comecei a caminhar de um lado ao
outro daquele cômodo, mas parei de repente, com medo de que algum vizinho do
andar de baixo pudesse ouvir aquela orquestra de passos regida por mim.
Chamar a polícia não
seria uma boa ideia, pois me colocariam como suspeito número um e isso me poria
em maus lençóis. Ela estava ali. O corpo envolvido em sangue seco, os dedos
dobrados e a camisola rasgada, quem a matou foi cruel e sem escrúpulos. Sentei
na beirada da cama e fiquei ali admirando aquele cadáver e pensando em como
resolver aquela terrível situação.
Fui para a cozinha.
Abri as gavetas e as portas dos armários na tentativa de achar algo que pudesse
me servir para uma ideia que tive. Seria muito simples. Eu cortaria cada parte
do corpo, meteria em alguns sacos plásticos, e sairia com os restos por aí, em
seguida os jogaria bem longe, num lugar onde ninguém suspeitaria. Depois
voltaria e limparia tudo. Nem a polícia, caso viesse investigar, conseguiria
descobrir algo, de tão bem feito que eu fizesse o serviço.
Armei-me com uma faca
de cortar carne, daquelas bem grandes e com dentes afiados e uma serrinha de
cor vermelha, aquelas eram as únicas coisas ao meu alcance naquele momento.
Parti em direção ao quarto. Abri a porta. O corpo permanecia ali. Aproximei-me,
me abaixei e olhei, mais uma vez para aquilo. Comecei a cortar. Felizmente não
espirrou sangue. Minha roupa ficaria limpa, sem nenhum vestígio e isso seria
mais um álibi a meu favor. Botei os braços e as pernas no primeiro saco. O
tronco, dividido em três partes meti em outro e o que lhe sobrara da cabeça,
inclusive os olhos azuis foi colocada em outra. Pronto, serviço feito. Com
pressa desci as escadas, não esperei pelo elevador. Imaginem me deparar com
algum vizinho. Eu com aqueles sacos nas mãos e ele ou ela me olhando
desconfiado.
Meu carro estava parado
na vaga a mim reservada. Com um clique na chave abri o porta malas e enfiei
tudo lá dentro. Entrei no carro, arrumei o retrovisor, olhei para trás e não vi
pessoa. Virei à chave e o maldito veículo não ligou. Só faltava ter acabado a
gasolina, mas o painel mostrava o contrario, tinha combustível o suficiente
para ir até a lua e voltar.
Finalmente o carro
ligou e eu saí. A rua estava escura e uma floresta de prédios me envolvia. Nada
de árvores, muito menos, de plantas, tudo cinza e triste. Desci com meu carro
numa estradinha de terra batida, nenhuma casa, nem um sinal de vida humana
naquele lugar. Parei e com os faróis baixos continuei com aquilo que me
propusera a fazer. Cavei um buraco fundo e enterrei os restos mortais daquela
pobre mulher. Bati com a pá em cima do túmulo, pisei e fui embora.
Capítulo 2
Estava tudo limpo,
cheiroso e organizado. Era madrugada e finalmente poderia dormir. Seriam poucas
horas de sono, pois toda aquela tarefa havia me deixado exausto. Despertei com
o barulho do despertador do celular, peguei o aparelho, olhei para a tela e vi
que eram sete horas da manhã.
Calcei meus chinelos e
vesti minhas calças, dormi sem roupa por causa do calor. Estava pronto para ir
ao trabalho. Vestia um terno preto, sapatos da mesma cor e gravata num tom mais
claro, cinza é a cor mais apropriada a se dizer. Cheguei ao escritório. Aquele
prédio imponente, todo espelhado e a enorme fila do elevador.
- Atrasado dez minutos,
senhor Fabiano!- Era meu chefe, doutor Bernardo, um velho de mais se setenta
anos, magro igual a um esqueleto e com os olhos grandes e saltados para fora do
crânio.
- Me perdoe! – Eu
disse.
- Tudo bem, mas que
isso não se repita! - Falou ele me lançando aquele olhar desafiador.
Comecei a trabalhar
naquela empresa há pouco tempo. Desculpe, mas não me apresentei. Meu nome é
Fabiano Batista, tenho 26 anos e sou contador, sim, formado em contabilidade,
cálculos e mais cálculos invadem o meu cérebro diariamente. Com muito esforço
consegui entrar nessa empresa, muita gente trabalha aqui, todos legais, com
exceção do meu chefe, o doutor Bernardo Villela. Um filho da puta asqueroso e
nojento, um comedor e menininhas, garotas essas que vem trabalhar com ele e que
rapidamente são levadas para a cama com promessas de presentes e aumento de
salário, coisa que nunca aconteceu.
Minha mesa estava do
mesmo jeito, uma bagunça sem igual. Um a um fui distribuindo oi, bom dia e como
vai para todos os meus colegas de trabalho. Amigos? Bem, havia poucos, três
para ser mais exato. O mais próximo era o Ruan, um rapaz da minha idade,
gordinho e inteligente pra caramba. Os outros dois eram a Rose e a Kátia. O
Ruan era apaixonado pela Rose, um espetáculo de mulher, loira, seios e bunda
grande, o rosto bem redondo e os cabelos lisos. A Kátia, coitada, era o avesso,
baixinha, com alguns quilinhos a mais e a pele do rosto bastante ressecada
devido à falta de protetor solar.
Liguei o computador e
iniciei meu dia. Tinha muito trabalho a fazer e eu adorava, principalmente
porque precisava apagar certas coisas da memória. Fechei os olhos por um
instante e a imagem daquele corpo que eu não matei, mas esquartejei vieram na
hora. Abri os olhos, assustado. Todos me olhavam, um deles me perguntou:
- Tudo bem por aí,
Fabiano?
Tentando disfarçar a
tensão, respondi:
- Sim, tudo ótimo. Só
foi uma tontura, mas já passou.
O sujeito se deu por
satisfeito e não me questionou mais, ainda bem. Não estava com vontade e muito
menos paciência para ficar explicando certas coisas, principalmente sobre o que
ocorrera em meu apartamento na noite passada.
Capítulo 3
Faltavam alguns
detalhes para fechar o serviço daquele dia. Já tinha até passado da minha hora,
mas tive que ficar mais um pouco devido ao meu atraso. Precisava ir, estava com
sono e cansado. Meus braços doíam e as costas, pobre delas, pareciam que iriam
se quebrar a qualquer momento. A dor era suportável até certo ponto, mas
bastava me mexer um milímetro para tudo arder feito brasa quente na pele.
Quase pulei de alegria
quando vi a hora no relógio de parede da firma. Arrumei rapidamente a minha
mesa, peguei minhas coisas e saí em disparada. Meu carro estava a minha espera
e a minha cama também. Saí a toda velocidade; na rua pessoas saindo de seus
empregos e indo embora para suas casas. Umas iam a pé, outras de ônibus e
poucas iam de carro, ainda bem que eu tinha meu. Não era lá grande coisa, mas
dava para me levar para onde eu quisesse.
Abri a porta do
apartamento e o encontrei tudo limpo e em ordem, nada de anormal acontecerá por
lá, a não ser pela noite anterior, no entanto, isso era coisa do passado. Fui
direto para o chuveiro, necessitava de um bom banho. Deixei a agua quente
escorrer pelo meu corpo. Coloquei a cabeça embaixo da água e permaneci naquela
posição por alguns minutos. A cabeça estava quente por culpa de um desgraçado
que deixou uma moça morta dentro do meu apartamento.
Já trocado eu fui
arrumar algo para comer. Na geladeira havia apenas ovos e algumas salsichas,
seria aquilo mesmo. Cozinhei as salsichas em uma panela pequena e fiz ovos
mexidos, comi tudo vigorosamente. Fui para cama de banho tomado, barriga cheia
e consciência tranquila. Dormi com os anjos.
Capítulo 4
Decorria mais de um mês
desde que eu esquartejara aquela pobre moça. Coitada! Aquela tinha sido uma
noite diferente de todas as demais noites desses meus vinte e seis anos.
Lembro-me de ter dado uma festa para o pessoal do escritório e de ter bebido um
pouco a mais da conta. Mas não me recordo de ver ninguém ser assassinado,
também pudera como alguém no meu estado de embriaguez poderia se rememorar de
algo?
O trabalho no
escritório de contabilidade ia muito bem obrigado. Os honorários foram tão bons
que eu decidi convidar a gostosa da Rose para sair. Queria comer aquela mulher!
O Ruan que se dane! Se ele se interessou por ela, mas não comeu primeiro,
problema dele.
Fiquei numa esquina
próxima ao prédio do trabalho. Esperei por alguns minutos até ela surgir.
Naquele dia ela estava mais deliciosa como de costume. Vestia uma saia de couro
marrom, uma blusa branca que lhe mostravam bem seus seios enormes e usava um
batom vermelho. Que espetáculo de mulher era a Rose.
Ela entrou no carro e
logo de cara consegui ver suas coxas, eram lisas e bem grossas.
- Oi Fabiano, me
desculpa pelo atraso. - Disse ela dentro do meu carro.
Estava hipnotizado por
aquela mulher, tanto é que demorei alguns segundos para responder.
- Não tem importância.
– Respondi.
- Para onde nós vamos?
– Ela questionou
- Para um motel. –
Respondi para eu mesmo, mentalmente. – O que acha de uma pizza?
- Bem, acho uma boa,
afinal hoje é sexta-feira.
Liguei o carro e
saímos. Conversamos por todo o trajeto. Ela me contou que morava com os pais e
que teve poucos namorados, ou seja, eu estava ao lado de uma quase virgem. Rose
tinha 23 anos, mais nova do que eu que tenho 26 atualmente.
Parei o carro numa rua
perto da pizzaria, desci, dei a volta pelo veículo e feito um Lord inglês abri
a porta para ela. Rose riu da minha atitude, não por deboche, mas eu agi de
forma estranha ao fazer aquilo. Queria agrada-la.
Comemos e bebemos.
Rimos e conversamos ainda mais. Aos poucos fui tentando convence-la de ir
comigo para o meu apartamento, Rose era difícil, ou se fazia, não sei.
- A gente mal se
conheceu e você tá querendo me levar pra sua casa. – Falou ela, num tom nada
agradável. Parecia estar me condenando.
- Não é nada disso. –
Disse eu. – É que nesse lugar não podemos ter nenhum tipo de intimidade.
Foi aí que ela jogou o
balde de água gelada sobre mim.
- Mas eu não quero ter
nenhum tipo de intimidade com você Fabiano. Sou tua amiga apenas.
Não sabia o que falar.
Estava literalmente sem chão naquele momento.
- Tudo bem, me
desculpe.
Ela tirou um papel da
bolsa e com ela limpou o batom dos lábios.
- Por favor, se for
possível me leve até a estação de metrô mais próxima. – Pediu ela.
Tentando ser gentil e
ao mesmo tempo tentando contornar a situação sugeri:
- Posso te levar para
casa, se quiser.
- Não precisa, é só me
deixar na porta de qualquer estação, que eu me viro.
Fomos embora. Durante o
caminho até a estação palavra nenhuma foi trocada, antes de sair, sem jeito,
ela me deu uma boa noite que eu correspondi sem graça. Esperei ela sumir da
minha vista para começar a dar murros de raiva no volante. Estava entorpecido
de cólera.
Dormi o resto da noite.
Não queria mais saber de mulher por um bom tempo, a Rose seria uma delas. No
dia seguinte, um sábado, despertei de meu sono, descansado e revigorado. Como
não costumo ficar em casa durante a semana, a não ser à noite para repousar,
decidi fazer uma faxina. Armado de balde, vassoura, rodo, pano de pó e produtos
de limpeza, iniciei uma senhora faxina. Comecei pelo banheiro, passei pela
sala, quarto e finalmente a cozinha. Estava orgulhoso de mim. Suado por causa
do trabalho em casa, fui tomar um banho. Deitei no sofá e entediado resolvi
sair para dar uma volta na rua, algo não muito bom martelava a minha cabeça.
Capítulo 5
Passou um bom tempo
desde o fora que eu levei da Rose, e para a minha felicidade, isso se eu posso
chamar assim, o Ruan, meu melhor amigo, também não se deu bem no flerte e levou
um sonoro não. O problema é que o infeliz resolveu cantar a gostosa da Rose
dentro do escritório. Assustado ele me confessou certa preocupação com um
processo por tentativa de assedio.
- Eu te avisei Ruan. –
Falei, tentando dar uma de experiente no assunto.
- Como eu ia adivinhar,
me diz? – Perguntou ele.
Dei uma breve olhada
para os lados, me certificando de que ouvidos alheios não estivessem a nos
ouvir:
- Que fique entre nós.
Mas há dias eu tentei levar ela para o meu apartamento. A convidei para ir a
uma pizzaria. Conversa vai conversa vem, então resolvi dar o bote, tomei um
belo de um fora. – Contei. – E tem mais Ruan. Mulheres como a Rose, não são
fáceis de conquistar.
Não me intrometeria
mais no caso. O idiota do Ruan poderia muito bem resolver os problemas dele, da
Rose, momentaneamente, eu desejava distância. A minha preocupação não era me
ferrar junto com ele, e eu tinha coisa pra caramba para me inquietar.
Depois de uma longa
conversa na sala do senhor Bernardo, o dono da empresa, foi decidido que tanto
a Rose a acusadora, quanto o Ruan, o acusado, não seriam demitidos, eles apenas
trocariam de horário. Ela trabalharia pela manhã e ele no período da tarde,
tudo resolvido, Ruan veio em minha direção, à camisa molhada de suor e o rosto
vermelho de tensão.
- E aí, como foi?
Resolveu alguma coisa? – Perguntei.
Aos poucos o semblante
do Ruan foi melhorando e ganhando uma coloração mais agradável.
- Sim! – Ele respondeu
monossilábico.
- Que tal uma cerveja
depois do expediente? Você tá precisando relaxar. – Sugeri.
- Não é uma má ideia,
vamos sim, tem um bar aqui perto.
- Combinado então. –
Falei.
O dia transcorreu
normalmente. Nada de anormal dentro do escritório de contabilidade. Como sempre
eu estava muito atarefado, tão atulhado de coisas a serem feitas, que mal eu
pude olhar para os peitos da Rose. A piranha reclamava de assédio, mas dava
motivo para tal. Andava sempre com saias curtas e com um decote enorme,
deixando a vista dos homens seus belos atributos.
A cerveja estava gelada
e a conversa melhor ainda. O Ruan era um sujeito incrível. Bom de papo,
inteligente, mas um verdadeiro Zé Mané. Vivia reclamando de falta de mulher,
mas foi ficar, justamente, de olho na Rose. Mas fazer o que, não se pode mandar
no coração alheio. Bebemos três ou quatro cervejas, não me recordo. Fomos
embora juntos em meu carro. No trajeto, visivelmente embriagado, fui obrigado e
ficar ouvindo seus intermináveis lamentos.
Capítulo 6
Conheci o meu chefe na
faculdade de contabilidade. Bernardo Villela foi um dos meus professores ao
longo de todo o curso, um excelente educador, mas um tremendo de um mau
caráter. Se na sala de aula ele era o cara rígido com seus alunos, da porta pra
fora ele mostrava sua verdadeira face. Bernardo tinha como costume convidar
alunas para sair, algumas aceitavam tantas outras, não. O velho era insistente
em suas investidas. A armadilha era armada por ele da maneira mais torpe
possível. As presas favoritas eram as alunas com notas baixas, que necessitavam
de uma ajudinha do professor para passar tranquila no semestre, e muitas das
garotas se sujeitavam a transar com o desgraçado em troca de uma nota.
Ele as levava para um
apartamento longe dos olhares dos mais curiosos e ali ele realizava suas
fantasias. O maldito concretizava suas libertinagens, mas muitas garotas
afirmavam em alto e bom som que o velho babão era ruim de cama e que tinha o
pau pequeno, o que gerou em toda a faculdade o apelido de peru mole. Bernardo
odiava ser chamado pelo apelido, mas a coisa pegou tão forte que outros
professores começaram a chama-lo assim.
Minha relação com ele
era de professor e aluno, nada mais do que isso. Logo após me dar aula, ao
final de mais um semestre, me convidou para uma cerveja, e lá me fez o convite.
Trabalharia no escritório dele, um dos maiores da cidade, quiçá, do país.
Pensando que os
convites para noites de sexo se restringiam somente ao âmbito acadêmico, me
surpreendi ao descobrir que ele fazia o mesmo com algumas de suas funcionarias.
Depois disso sempre
fiquei com um pé atrás com ele. Não gostava do modo em que olhava para as
pessoas, inclusive seu olhar para com as mulheres me causava nojo e repulsa. Por
vezes vi a Rose sair da sala dele totalmente sem graça e desconcertada. Mas
infelizmente não podia fazer nada. Acusar o velho de algo seria assinar minha
sentença de morte e o fim do meu futuro profissional. Bernardo era conhecido no
meio de todos os contadores e um telefonema dele para qualquer um de seus amiguinhos
poria minha carreira em risco.
Por diversas vezes o vi
sair de carro com varias secretárias, o destino, claro, era o apartamento do
filho da mãe. De lá elas saiam enojadas e ele ficava feliz e satisfeito por ter
traçado mais uma, entre tantas de sua enorme lista. Mas porque elas nunca o
denunciaram? Fico com essa pergunta sem resposta, porém, levanto algumas
hipóteses. Ameaça? Medo? Exposição? Ou ele simplesmente comprava o silêncio de
cada uma delas?
Capítulo 7
Cheguei ao trabalho e
logo de cara percebi uma movimentação um tanto quanto estranha. Meus colegas de
escritório formavam uma roda e conversavam sobre algo que a principio eu não
compreendi. Curioso para saber do que se tratava me aproximei para ouvir a
conversa.
- Como assim
desaparecida? – Disse um de meus colegas, um magrinho de óculos e bigode mal feito.
- Faz um tempo, ela
simplesmente nunca mais veio trabalhar. O doutor Bernardo ligou para ela
tentando encontra-la, mas até o momento nenhum sinal.
Deixei o papo rolar
entre eles, esperando uma boa oportunidade de colocar a minha colher no meio
daquilo tudo.
- Quem é essa moça de
que estão falando? – Perguntei.
- A Patrícia. Lembra-se
dela? – Disse uma moça de cabelos curtos e loiros e olhos bem azuis.
Então comecei a puxar
pela memória, mas não recordava de nenhuma Patrícia. Aquele escritório era muito
estranho, pois havia um rodizio grande de funcionários, principalmente
mulheres.
- Sinceramente não me
lembro. – Disse eu enquanto me afastava do burburinho.
Foi aí que veio um
misto de susto, surpresa e pitadas de taquicardia. A moça loira de cabelos curtos
sacou o celular e mostrou-me uma foto da tal Patrícia, tal qual foi a minha
surpresa ao perceber que se tratava justamente da moça que apareceu morta em
meu apartamento.
Meu coração disparou.
Tudo começou a rodar feito carrossel e eu simplesmente apaguei. Acordei com o
Ruan, a Katia e a Rose quase que em cima de mim. Faltava-me ar, me faltava
explicações, só me sobravam medo e desespero. Aquele povo em cima de mim não me
deixava respirar. Já recuperado e devidamente sentado em uma cadeira
confortável e com um copo de água na mão, comecei a ser interrogado pelos
colegas.
- Você saiu com essa
moça? – Alguém perguntou.
- Não, não sai. –
Respondi.
Veio outra pergunta e
mais outra resposta negativa. Duvidas e mais duvidas e eu ficando cada vez
menos a vontade com toda a situação. Não sabia mais o que fazer, até que o Ruan
intercedeu por mim. Com seu jeito gentil e educado foi aos poucos tirando
aquela gente chata do meu caminho. Mas quando eu pensei ter me livrado de um
milhão de problemas, eis que o meu anjo protetor, meu salva-vidas se senta ao
meu lado e dispara:
- Essa moça estava em
seu apartamento naquela noite da festa, não estava?
Não poderia mentir,
verdade seja dita, não teria como. O Ruan ficou com aquela moça, mas foi
embora, ou pelo menos eu penso assim, entretanto eu estava totalmente
embriagado, não me recordo de certas coisas realizadas naquela maldita noite,
regada a bebida, cigarro e muitas drogas.
- Estava sim, mas
depois eu não a vi mais. – Inventei uma desculpa qualquer. Por nenhuma hipótese
não poderia dizer a ele: meu caro amigo Ruan, sim, eu vi a Patrícia, morta,
toda ensanguentada e com a cabeça espatifada feito melancia quando cai no chão.
Mas foi evidente que menti e omiti a esse respeito.
- E como ela foi sumir
assim tão de repente? – Ele perguntou.
- Não sei. Só sei que
preciso comer. Não coloquei nada na barriga ainda. – Falei, mentindo sobre
tudo, inclusive sobre a fome.
. Saímos juntos para
comer. Durante o breve lanche o assunto foi a Patrícia. Só o meu amigo falava e
eu de boca cheia concordava com tudo, tentando disfarçar a tensão estampada em
meu rosto.
Capítulo 8
Os dias pareciam
tranquilos desde os derradeiros acontecimentos. Abri a janela do apartamento. O
sol brilhava e os raios solares vinham em minha direção, tudo estava bonito e
calmo. Na rua pessoas passeavam com seus cachorros, casais andavam de mãos
dadas e um silêncio gostoso invadia meu ouvido me convidando a voltar para
cama. Era meu dia de folga e fazia um bom tempo que isso não ocorria, e eu
precisava aproveitar a oportunidade para sair um pouco.
Vestido com uma bermuda
da cor creme, camiseta branca agarrada ao corpo e sandálias, sai pela rua. O
carro ficaria na garagem, iria a pé para algum lugar, um parque, sei lá. Apesar
de morar em uma grande cidade, às vezes eu ouço o canto de alguns pássaros. Não
sei especificar quais, porém, é bom escutar a natureza de vez em quando.
Desde o sumiço da
Patrícia minha cabeça anda a mil por hora. Por que ela foi aparecer morta no
meu apartamento e por que eu fiz a besteira de sumir com o corpo? Sentado em um
banco de cimento, em uma praça perto de casa, comecei a analisar os fatos. Quem
eu convidei para aquela festa? Provavelmente o pessoal do escritório inteiro,
menos o doutor Bernardo. Será que os meus convidados levaram alguém de fora?
Talvez.
Levantei-me. De longe
avistei um homem e seu carrinho de sorvetes, fiz um sinal, o homem parou e eu
fui a sua direção. Comprei um picolé e continuei andando, o sol cada vez mais
forte e a pela queimando, não passei protetor solar, muito embora não tivesse
um. Resolvi voltar para a casa.
Já em meu apartamento
liguei o rádio numa altura suficiente para não incomodar o vizinho de baixo,
uma velha de uns oitenta e tantos anos, seu nome era Quitéria e sofria de
reumatismo, doenças de gente igual a ela. No som tocava um rock antigo, Led
Zeppelin, Stones... não tenho ideia, só sei que a melodia era muito boa.
Comecei a dar uma ajeitada na bagunça, meu quarto estava um verdadeiro caos. A
cama desarrumada, e algumas camisas jogadas pelo chão. Aos poucos fui
recolhendo a roupa e dando um jeito no meu leito de dormir. Tudo estava
devidamente em seu lugar, só restava agora relaxar, abrir uma cerveja e
assistir televisão.
Capítulo 9
O tempo passou e o
assunto Patrícia sumiu das bocas e das rodinhas de fofoca do escritório. Mais
ninguém ousava ao menos pronunciar tal nome. Se ela sumiu, o problema era da
família e posteriormente das autoridades competentes. Não havia nada a fazer, e
eu em meu lugar só esperaria, com certa cautela, pois fui o responsável pelo
sumiço do corpo, entretanto, não tenho participação alguma com seu triste fim.
Ruan veio falar comigo.
Vestia uma camisa rosa e gravata de um tom mais escuro, suas bochechas estavam
vermelhas e seu andar engraçado.
- Tudo bem parceiro? –
Perguntou ele enquanto me dava um leve tapinha nas costas, algo que eu
detestava.
- Sim, estou ótimo! A
folga me fez bem, estava precisando, o serviço anda meio puxado, como pode
perceber. – Falei, mostrando a correria dentro do escritório.
Ruan olhou, fez cara de
estar pouco ligando para a situação.
- Tem razão Fabiano. –
Ele disse por fim. O vi se afastar e levar toda aquela banha nojenta para longe
de mim.
Fiquei ali no meu
lugar, com meu computador, minhas coisas. De longe a Katia me deu um oi e eu
retribui o gesto. A gostosa da Rose me deu uma piscada bem safada seguida por
um sorriso que me fez por pouco não cair da cadeira. Tudo ia bem, até o doutor
Bernardo surgir ao lado de dois homens desconhecidos por mim.
Os três caminhavam lado
a lado e pareciam vir em minha direção. A mão começou a suar e o coração a
bater um tanto quanto confuso. Tremi. Senti a mão de o velho encostar-se a meu
ombro:
- Oi Fabiano! Quero lhe
apresentar os senhores Duílio e o doutor Saavedra. - O primeiro era alto e
gordo, a barriga cobria a cinta que segurava a calça, o outro era o oposto. –
Eles são investigadores de polícia e vieram até aqui para te fazer algumas
perguntas.
Fudeu! Lasquei-me!
Estou frito! Vou ser preso! Não poderia demonstrar o mínimo sinal de
nervosismo. A voz deveria ser firme e as minhas respostas tinham de passar o
máximo de confiança possível, e o meu álibi precisava ser o melhor dos
melhores.
- Podemos conversar em
particular? - Questionou um deles, o mais magro.
- Claro!
Levantei-me e apontei
para uma das varias salas ao redor do escritório. Fui à frente e os dois me
seguiam. Notei o olhar de julgamento de ambos para mim, o jeito como me
encaravam me dava medo. Já na pequena sala composta por uma mesa redonda,
cadeiras almofadadas, um telão que era usado eventualmente para chamadas de
vídeo conferência. Convidei-os a sentar e lhes ofereci café de uma maquina
presa na parede perto da porta.
- Bem. – Os dois me
olhavam mais ainda.
- Muito bem- Disse um
deles, o sorriso sarcástico no rosto e os olhos injetados de cólera a me
observar como uma presa fácil. – O seu nome é Fabiano Batista, correto?
- Sim senhor.
- Tem 26 anos, nasceu
na Bahia, e atualmente mora...
- Tatuapé. - Completei.
- Isso mesmo. -
Complementou.
Enquanto o Duílio me
perguntava, o Saavedra parecia estar no mundo da lua. Ele olhava
insistentemente para o teto e batia com os dedos na mesa, e isso me irritava,
mas era obvio que eu não podia demonstrar.
- Como e quando o
senhor conheceu a senhorita Patrícia Andrade?
- Ela trabalhava aqui.
- Alguma vez conversou
com ela, dentro ou fora do ambiente de trabalho?
- Aqui quase todos os
dias, pois sempre trocamos informações uns com os outros, isso é normal por
aqui.
- Entendi.
- É verdade que o
senhor deu uma festa em seu apartamento e que a senhorita Patrícia era uma das
convidadas?
- Dei sim, e além dela
estavam também outros colegas da firma, só o doutor Bernardo que não.
- A festa tinha algum
objetivo? Era seu aniversário?
- Não. Faço aniversário
em outubro, dia quatro.
Ok! Todas essas pessoas
aí fora participaram da sua festa?
- Todas. Menos aquela
moça ali. – Falei apontando para a secretária nova, uma jovem de cabelos loiros
e corpo roliço, seu nome era Helen.
- Correto. Você
suspeita do que pode ter acontecido? Se ela tinha algum relacionamento? Consta
aqui nos autos que ela havia terminado um namoro poucas semanas de seu
desaparecimento. Alguma vez o senhor ouviu ou viu alguém aqui do escritório mencionar
algo a respeito?
Parei para pensar.
Então respondi.
- Sinceramente não.
Chego aqui, faço meu serviço, pego meu carro e vou pra casa. Às vezes convido o
Ruan, meu melhor amigo para irmos a um bar aqui perto, pra tomar uma gelada,
porém, ele nunca sequer tratou de um assunto parecido com esse.
Os dois me olhavam,
provavelmente suspeitando de algo, e esse era naquele momento o meu maior
receio. Meu temor cessou quando o Duílio se levantou me estendeu a mão e me
disse:
- Obrigado pelos
esclarecimentos senhor Fabiano. Se precisar nós sabemos aonde encontrar o
senhor.
- Tudo bem, estou à
disposição. – Falei, com vontade de fugir o mais depressa possível daquela
sala.
Os dois saíram. O
Saavedra sem dar tchau, foda-se ele. Não preciso de machos nojentos e muito
menos de dois policiais babacas me bajulando. Foi sair da sala para o Ruan vir
em minha direção.
- E aí o que eles
queriam? – Questionou.
- Me interrogar. A
Patrícia sumiu no dia que eu dei aquela festa.
De repente o Ruan
começou a tremer, sua voz ficou diferente, parecia estar com a língua pesada,
pois sua voz saia um tanto quanto estranha de sua garganta.
- Você falou de mim pra
eles, que eu fiquei com ela.
A minha vontade era ter
falado, mas livrei meu grande amigo de uma roubada.
- Nem sequer disse teu
nome, meu caro. Agora vamos voltar para o trabalho. – Disse colocando a mão em
seu ombro.
Capítulo 10
Aquele depoimento
realmente mexeu comigo. Foram noites longas até o telefone tocar no meio de uma
madrugada de forte chuva e o meu coração disparar:
- Alô? – Silêncio do
outro lado da linha. Apenas um leve chiado podia ser notado, no entanto, me
preocupei.
Fui ao banheiro,
encostei-me a pia, levantei a cabeça e vi meu reflexo no espelho. Eu estava
realmente cansado, morto de sono. Joguei uma água na cara e fui caminhando em
direção ao meu quarto quando de repente ouvi batidas, ou melhor, pancadas na
minha porta. As batidas não cessavam. Corri até a cozinha e tirei uma faca
grande da gaveta, instrumento, aliás, que me ajudou na terrível missão de esquartejar
a pobre da Patrícia. Andei pé sobre pé, bem vagarosamente. Fiquei ao lado da
porta, abri de uma vez, mas não tinha ninguém.
Olhei de longe. O
corredor outrora escuro se iluminou devido a minha presença ali, o maldito
sensor de presença. Avistei alguém descer as escadas de emergência e resolvi ir
atrás. A faca na mão e o coração acelerado no peito, finalmente eu pegaria o
assassino e daria cabo naquele desgraçado. Segui a toda pelas escadas, degrau
após degrau e o meliante ia fugindo. Com as trevas era impossível ver quem era,
mas dava para notar que se tratava de um homem, ou ao menos parecia ser um. Vi
o safado sumir da minha vista e eu parar bem detrás do meu carro. O porta-
malas estava aberto e o que tinha ali dentro era deveras assustador.
A cabeça da Rose
parecia um bolo espatifado, ali não havia nada além de massa encefálica e
sangue, muito sangue. Recuei um passo sem saber o que fazer. Senti a faca pesar
em meus dedos. Admirei aquele corpo com um desejo fora do normal. O acariciei.
Coloquei minha mão em seu seio esquerdo, puxei e dei um corte. Um dos
deliciosos peitos da Rose agora estava em minhas mãos. Beijei aquele estranho
objeto, lambi, mordi, fiz de tudo. Parecia uma criança faminta e um homem
excitado, meu pênis quase saia da calça devido ao enorme tesão que passei a
sentir ali.
Depois do seio, comecei
a destrinchar a Rose. Cortei seus braços e pernas, seu sangue jorrou em minha
face, mas não liguei. Suas coxas eram lisas e grossas. Mesmo morta dentro do
meu carro senti vontade de penetrá-la e assim o fiz. Estava louco, ensandecido,
então resolvi parar.
Sai a mil por hora de
lá. Os pneus cantando e a adrenalina subindo. Tudo era tão forte e fora da
realidade. As ruas estavam vazias de gente, mas cheias de silêncio. O assobio
do vento batendo nas árvores me causava medo e minhas pernas tremiam, tinha as
mãos sujas de sangue. Parei o carro em uma rua sem saída. Nada de luzes, nada
de vida humana, mais calmaria para os meus já agitados nervos.
O corpo jazia em meu
carro, mais uma vez não fui eu quem matou, porém eu o esquartejara, assim como
fizera com a pobre da Patrícia. Coitada dela e de sua família.
CAPÍTULO 11
Não quero me recordar
onde eu desovei o corpo da Rose e muito menos o que eu fiz antes com ele. Depois
que esse pesadelo acabar irei atrás de tratamento, um psiquiatra talvez seja a
melhor escolha. Descobrir quem é o filho da puta que mata e coloca os corpos em
meu caminho era a meta do momento. Há se eu pegar o desgraçado. O faria em
picadinho, cortaria cada pedacinho dele igual os açougueiros fazem com os bifes
no açougue.
Estava transpirando,
ansioso, preocupado. No escritório todos estavam preocupados pelo atraso da
Rose que era sempre uma das primeiras a chegar e a iniciar seus trabalhos. Além
de pontual era bastante prestativa e atenciosa com todos. Quando comecei na
empresa, a Rose me ensinou muita coisa importante e isso tem me ajudado até
hoje. Pobre mulher. Assassinada de forma cruel por um louco, e esquartejada por
outro, pior ainda. Tirar a vida de alguém é algo muito ruim, mas destrinchar o
corpo é muito pior Mas por via das dúvidas o melhor era permanecer em silêncio.
Estava decidido. Sairia
na caça do verdadeiro assassino e acabaria com ele, mas para isso teria que
pedir afastamento das minhas funções. Levantei-me da cadeira e fui caminhando
até a sala do doutor Bernardo. Girei a maçaneta e a porta se abriu com um
estalo, com certeza era falta de óleo, pois o barulho se parecia muito com
caixões se abrindo naqueles filmes de terror com vampiros.
- Posso falar um minuto
com o senhor?
Sentado em sua poltrona
giratória, Bernardo levantou a cabeça o suficiente para notar a minha presença
em sua sala.
- Se for pra pedir
aumento, esqueça.
A sala era grande e
lotada de quadros. Diplomas, fotos de família, viagens, certificados de bons
serviços. O chão era todo acarpetado e as paredes pintadas na cor creme. Os
móveis eram escuros e muito bem cuidados. Todos os dias, a dona Marli limpava
cada canto daquele lugar como se ali fosse à casa de um santo.
- Não senhor. Gostaria
de me afastar da empresa por um tempo. – Disse.
Os olhos do velho
brilharam de surpresa e de espanto:
- Qual o motivo? Posso
saber?
Pensei em várias
desculpas durante meu breve trajeto entre a minha mesa e a fortaleza que era
sala do grande chefão, mas na hora inventei outra, provavelmente a mais
convincente.
- Minha mãe está muito
doente, pode morrer a qualquer momento.
- Sinto muito. – Ele
falou. – O que ela tem, posso saber?
Ele não poderia saber,
pois ela não tinha nada e gozava de boa saúde. Oxalá eu tivesse a sorte da dona
Antônia. Nunca ficou doente na vida, a não ser uma pneumonia forte na infância,
mas depois dessa nunca teve mais nada. Aos sessenta e cinco de idade ela toma
vitaminas, e faz caminhada todos os dias. Já eu, vivo o meu sedentarismo diário,
prestes a ter um ataque do coração a qualquer momento.
- Câncer, ela tem
câncer, senhor.
- Meu Deus.
Lágrimas mentirosas
começaram a brotar dos meus olhos. E como um ator experiente, iniciei uma das
maiores encenações da minha breve carreira. Falei de todo o sofrimento dela,
das dores, das trocas de hospitais, da cirurgia que por pouco deu errado e até
clamei a Deus pedindo uma intervenção divina. A minha interpretação era
perfeita, e isso convenceu o doutor Bernardo a me liberar pelo tempo que eu precisasse.
Na saída do escritório ele me deu um abraço, me desejou força e pronto
restabelecimento a minha pobre mãezinha.
Peguei minhas coisas e
fui embora. Precisa chegar a casa, sentar e pensar em uma forma de pegar o
desgraçado. Ninguém, nem mesmo o Ruan meu melhor amigo saberia disso, seria um
segredo só meu.
Capítulo
12
Deixei o tempo passar
só para ver como as coisas caminhariam. Por falta de provas as investigações da
polícia deram uma estagnada, porém, eu poderia resolver toda a situação; não à
maneira deles, mas sim do meu jeito. Precisava pensar em como atrair o
verdadeiro assassino para perto de mim, no entanto seria arriscado. A hipótese
de servir-me como isca estava descartada, porque eu já sabia que o desgraçado
tinha preferência por matar mulheres e não homens, muito provavelmente por elas
serem mais frágeis e não terem força o suficiente para revidar, isso se os
crimes fossem limpos, é claro.
A sorte estava lançada.
Passei os últimos dias trabalhando bastante em um plano perfeito, ao menos para
mim ele era. Era tarde da noite, alguém bate a minha porta, faço silêncio.
Aproximo-me e dou uma espiada pelo olho mágico e vejo que são os dois
investigadores, abro a porta e cumprimento lhes apertando as mãos.
- Olá, que surpresa,
não esperava receber os senhores aqui. – Disse, tentando disfarçar o
nervosismo.
Saavedra deu uma geral
com os olhos em todo o apartamento, estava uma bagunça só. Passei os dias
estudando sobre o maldito assassino e me esqueci das tarefas de casa.
- Você mora aqui há
quanto tempo? - Ele perguntou.
- Três anos, se eu não
me engano, sou ruim em datas.
Os convidei para entrar
e sentar. Ofereci café, mas recusaram, eles só queriam me fazer algumas
perguntas. O interrogatório durou mais de uma hora. Questionaram-me sobre a
minha rotina, meus horários, meus hábitos, se eu gostava do meu trabalho, se
estava satisfeito com ele, e é claro, se eu tinha inimigos. Não menti em
relação a isso, só omiti quando me perguntaram sobre a Patrícia e a Rose. Os
dois queriam saber de mim tudo sobre elas, mas não disse muita coisa. O Duílio
era um sujeito legal, diga-se de passagem. Magro, calvo, usava óculos e era às
vezes brincalhão. Já o Saavedra era o oposto. Sério e bastante observador.
Enquanto o Duílio me fazia às perguntas olhando diretamente nos meus olhos, ele
ficava em pé andando pelo apartamento, fuçando em tudo, parecendo procurar
alguma prova que comprovasse que eu era o responsável pelo sumiço das moças, na
verdade eu era, em parte, e essa situação estava me deixando péssimo. Finalmente
foram embora. O Duílio parecia satisfeito até então, entretanto, o Saavedra,
nem um pouco, o que me fez ficar um tanto quanto preocupado.
O dia amanheceu e eu
despertei de um sono nada bom, mal consegui cochilar, dormir, era algo
improvável no momento. A arapuca estava pronta. Se o assassino veio até mim há
poucos dias, seria fácil atrai-lo, mas para isso precisava me armar. Decidi
desaparecer por uns dias, uma semana ou um pouco mais. Era mais do que
necessário tirar um tempo longe de todo burburinho para arejar as ideias. Iria
visitar minha pobre e doente mãezinha, coitada, um câncer estava lhe comendo
tudo por dentro, ri baixinho.
Capítulo
13
Estou de volta!
Descansado, renovado e com as baterias recarregadas. Agora era chegada a hora
de acabar com tudo aquilo que tem tirado o meu sossego. O plano estava pronto.
Resolvi dar uma festa em meu apartamento, convidando a todos inclusive o doutor
Bernardo, meu suspeito número um. Era uma noite de sábado. Estava muito quente
naquela noite. Aos poucos meus convidados foram chegando, um a um eles paravam
seus carros, outros chegavam a pé. Recebi meus convidados na porta, apertei a
mão e abracei muita gente. Pronto, a festa, mas principalmente a armadilha
estava armada, agora era só aproveitar e esperar o assassino morder a isca.
A festa rolou a noite
toda, álcool e drogas, as minhas reuniões eram regadas a muita cocaína e
heroína. Tudo andava muito bem, até eu ouvir um grito, fraco, quase inaudível
vindo do meu quarto. Sem aparentar alarmismo sai, andei poucos metros e
descobri que veio de dentro do meu quarto. Lentamente girei a maçaneta e me
deparei com algo assustador, era a Katia, toda suja de sangue ao seu lado com
um buraco na cabeça estava Ruan, meu melhor amigo, morto. Parei. O cenário era
de um filme de terror. O vestido branco que a Katia usava naquela noite estava
tingido de vermelho. O corpo do Ruan com os braços abertos, igual Jesus Cristo na
cruz. Ajoelhei-me, levantei meu olhar em direção a ela e a questionei:
- Por que fez isso
comigo? – Ela me olhou por um instante viu a janela aberta e se atirou rumo à
morte.
Fui preso, acusado
pelos crimes que não cometi julgado e sentenciado a passar o restante dos meus
dias preso em um manicômio judiciário. A promotoria alegou que eu era perigoso
para a sociedade, quanto aos corpos esquartejados, ninguém sabe. Escrevo esse
relato de dentro da minha cela, cansado, após fazer picadinho de mais um, se isso
vai acabar um dia, eu não sei, mas se precisar matar alguém mande o corpo que
eu sei o que fazer com ele.
Fim...
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