Esse conto é baseado em fatos reais. Os nomes e locais dos acontecimentos foram modificados para preservar a identidade dos envolvidos. E assim se inicia...
Capítulo
1
Esteban deslizou os
dedos pelas coxas nuas de Alice e ela se arrepiou. Parecia nervosa e ao mesmo
tempo tensa com aquilo. Fechou os olhos e pensou no namorado, noivo, quase
marido que estava a milhares de quilômetros de distância. Ela se entregou de
corpo e alma a aquele estranho. Deixou que ele tocasse de leve seu seio
esquerdo e beijasse seu pescoço, Alice estava completamente envolvida. Os dois
se beijaram, um beijo intenso, um toque tão leve e natural. Os dois estavam se
amando, ele gostava dela, ela também gostava dele, mas Alice estava dividida.
Depois do sexo Alice se
levantou; descalça, quase nua a não ser pelo lençol que cobria seu corpo,
caminhou pelo quarto. Esteban dormia, seu rosto era moreno e seus cabelos eram
compridos, ela se aproximou dele e o beijou na face. Continuou a andar de um
lado para o outro, pensando em Esteban, pensando mais ainda no noivo que estava
a trabalho no Egito.
Alice arrumava as
coisas dela em uma mala no instante em que Esteban despertava. Nu, cobrindo as
vergonhas com o travesseiro. Ele a olhou e indagou:
- Donde tu vas? - Alice
vira o rosto levemente, as mãos trêmulas, os olhos cheios d’água enquanto dobra
uma blusa é a joga dentro da bolsa. Alice respira fundo, vira-se, vai em
direção ao amado ainda nu e o beija levemente na boca.
- Tenho de ir embora.
Meu noivo vai chegar ao Brasil na semana que vem e eu preciso estar lá...
Esteban se levanta
ainda nu, segura Alice pelos ombros.
- Se queda conmigo, te
quiero!
- Eu também ‘te
quiero’, Esteban, mas não posso ficar...
Os dois se afastam.
Enquanto ela termina de arrumar suas coisas, Esteban já de cuecas saia do
quarto, a cabeça baixa, o andar triste.
Alice senta-se na
beirada da janela. Do lado de fora o trânsito intenso de carros e pessoas.
Recordou-se de como conheceu Esteban, do cigarro compartilhado nas madrugadas
uruguaias, dos beijos e das noites intensas de amor. Estava tudo pronto, malas
no chão, bolsa em cima da cama. Alice desce as escadas do hostel onde estava
morando. Ela fazia trabalho voluntário em uma comunidade carente de Montevidéu.
Dois amigos, um rapaz
brasileiro vestido de bermuda e camiseta, com cabelos despenteados, e uma moça
de cabelos vermelhos tingidos ajudavam Alice com as bagagens. Do lado de fora
os três se abraçaram.
- Vou sentir saudades.
- Falou Alice enquanto entrava no banco de trás do táxi. Seus amigos viram o
carro se afastando e notaram Esteban sentado num banco na área reservada para
fumantes, ele fumava um cigarro e olhava para o chão, parecia desolado.
Capítulo
2
O avião de Alice
aterrissou em São Paulo às 14:00 de uma sexta-feira chuvosa. Com o auxílio de
um carrinho ela empurrou suas malas até o saguão onde era esperada pela mãe e a
irmã mais nova, Nicole.
Dentro do carro
enquanto a mãe e a irmã falavam sem parar, Alice estava em silêncio, imaginando
o que Esteban estaria fazendo à uma hora dessas; fumando talvez, deitado na
cama de barriga para cima com o olhar perdido no teto de pintura descascada,
comendo suas arepas, bebendo, as possibilidades eram muitas.
Chegando a casa desfez
as malas, trancou-se no quarto e se jogou na cama, abraçou o travesseiro como
se abraçasse o amado e caiu no sono. Despertou com o som da mão da irmã batendo
na porta. Com cara de sono e tudo mais abriu a porta e saiu de lá direto para a
cozinha. Sua mãe havia preparado o jantar. Na mesa tinha uma grande travessa
com arroz, outra com feijão, além de salada de tomate e bife empanado, tudo
feito com muito amor e carinho. Alice se aproximou por detrás da mãe, lhe deu
um abraço forte e um beijo na face, em seguida ela falou:
- Te amo mãe, ‘tava’
morrendo de saudade da senhora. - Sua mãe lhe retribuiu o beijo, as três
sentaram-se e comeram, enquanto Alice contava suas aventuras em terras
uruguaias.
Terminaram a refeição
as três rindo. Alice levantou-se e começou a recolher os pratos, Nicole
observava admirada a irmã mais velha.
- O Daniel chega
quando? - Perguntou a mãe, enquanto guardava as sobras em um pote.
- Na terça, mãe, o
Daniel chega ‘na’ terça. - Respondeu Alice.
Alice vai para o
quarto, tranca a porta e liga o computador, após alguns minutos de espera
Daniel surge, sem camisa e com os cabelos despenteados.
- Estava morrendo de
saudades. – Disse ele.
Toda derretida ela
responde:
- Eu também, meu lindo.
Não vejo a hora de poder te abraçar, te beijar...
- Eu também...
- Ansioso pela volta?
- Um pouco, fiquei
muito tempo fora. ‘Tô’ com saudade de todos, da minha mãe, do meu pai, dos meus
amigos, mas principalmente de você.
Alice e Daniel ficaram
ali conversando por horas e horas até varar a madrugada...
Capítulo
3
Esteban entra no quarto
escuro onde ele e Alice transaram, não uma, mas seis vezes, numa intensidade
sem limites. Mesmo sem tê-la por perto ele sentiu sua presença. Deitou-se na
cama. O lençol tinha o cheiro dela. Fazia pouco tempo de sua partida, e Esteban
sentia-se desolado, sem ânimo para nada.
Esteban olha para o
chão, no rosto um misto de alegria e espanto. Ele se levanta, caminha um pouco
e se abaixa; no chão uma pulseira que ele agarra com força. Ele fecha a mão
direita como se aquilo fosse o maior tesouro do mundo, aquele adorno pertencia
a Alice. Esteban o coloca no bolso da calça velha e surrada, sorri, e sai do
quarto sem olhar para trás.
Na rua, Esteban caminha
apressado, desviando de pessoas lentas que estão na calçada. Entra num bar,
pede uma cerveja, abre e sai pela calçada bebendo. Seu olhar outrora triste se torna
radiante pela boa nova, a pulseira seria uma boa desculpa para uma ida ao
Brasil e um encontro com Alice.
Capítulo
4
Alice acorda, pega o
celular repousado na mesinha de cabeceira, olha para a tela e arregala os olhos
ao ver as horas e perceber que está atrasada. Daniel, seu noivo, chega ao
Brasil, vindo do Egito dali a poucas horas. Ela se levanta, abre o
guarda-roupa, pega uma calça jeans preta, uma camiseta com um coração desenhado
no peito e sai do quarto em direção ao banheiro. Sai de lá após alguns minutos,
já vestida, o cabelo despenteado, todo molhado, com uma toalha pendurada nas
costas, Alice tem pose de super-heroína.
Senta-se em frente à
penteadeira e como secador da mãe começa a secar os cabelos, Alice sorri
enquanto vê seu reflexo em frente ao espelho. Alice está pronta. Na sala de seu
apartamento na zona lesta de São Paulo estão sua mãe e a irmã mais nova, as
duas veem televisão. Alice passa por trás do sofá rasgado, a sala é decorada
por uma estante velha, porém em bom estado, uma mesinha de centro, comprada por
Alice, uma televisão grande e um tapete de cor azul.
- Tô indo’ pro’
aeroporto, mãe. O Daniel já deve tá chegando eu ‘tô’ mega atrasada. - Diz Alice
enquanto ‘rouba’ uma bolacha da irmã que está deitada. Alice sai de casa, a mãe
e a irmã continuam assistindo televisão.
Capítulo
5
O avião da Egyptair
aterrissa, um Boeing enorme. Aos poucos os passageiros vão descendo da
aeronave. Daniel para na porta do avião, olha para o céu de poucas nuvens,
respira fundo e desce lentamente cada degrau. Alice está no saguão do aeroporto
andando de um lado para o outro. Às vezes ela para e dá uma olhada para ver se
o noivo está vindo, mas ele não aparece. Alice senta-se no chão, a mochila é
colocada de lado, ela abaixa a cabeça um pouco, mas ergue de repente quando
avista de longe o noivo. Daniel está diferente, mais magro e com o cabelo
cortado curto, bem diferente do cabelo cheio, encaracolado, cheio de
ondulações, onde os dedos de Alice se perdiam a cada troca de carinho entre os
dois.
Alice se levanta, pega
a mochila pela alça e sai correndo, seus passos são atrapalhados, seu rosto
irradia felicidade e satisfação. Daniel e Alice ficam frente a frente, seus
olhares se cruzam, seus sorrisos se abrem. Por um milésimo de segundo o mundo
parece parar para que os dois curtam aquele momento. Um abraço mais do que
apertado, um beijo mais do que apaixonado. A menina rebelde da zona leste, e o
rapaz certinho da zona sul se reencontram, em meio a beijos e abraços, Daniel a
levanta e a gira no ar, Alice solta um gritinho agudo de felicidade. As pessoas
ali no saguão aplaudem empolgadas aquela cena. Alice olha envergonhada, mas
logo a timidez sessa, ela e Daniel trocam outro beijo, os dois se dão as mãos e
vão embora, o melhor casal do mundo está unido outra vez.
Capítulo
6
Esteban está no
aeroporto de Carrasco, em Montevidéu no Uruguai. De mochila nas costas e com
uma sacola de pano na mão direita ele saca o cartão de crédito da carteira e o
entrega a uma moça de uniforme, funcionaria de uma companhia aérea.
- Necesito ir a Brasil.
- Diz Esteban.
Após alguns minutos de
espera a atendente entrega a passagem para Esteban que se afasta. Esteban já
está no avião. Seu destino é mais precisamente o aeroporto de Guarulhos em São
Paulo. Esteban se afasta, senta-se em um banco, coloca os fones no ouvido, liga
a música no celular e relaxa, agora era esperar a chamada pelo avião e partir
rumo ao coração de seu grande amor... Alguns dias depois....
Capítulo
7
Daniel e Alice estão
sozinhos no apartamento da mãe de Alice. Os dois veem televisão juntos.
- Quer comer alguma
coisa? – Pergunta Daniel.
Alice tira os olhos por
um instante da televisão e olha direto para a cozinha.
- Bem, na geladeira não
tem nada.
- Posso pedir alguma
coisa.
- Tô dura de grana...
Daniel a beija no
rosto.
- Eu pago. Vou pedir
alguma coisa.
Alice se levanta num
salto.
- Então pede aquela
pizza de picanha que eu amo!
- Ok.
Alice vai para a
cozinha, Daniel fica no sofá...meia hora depois...
- Vou ao banheiro amor,
se chegar você pega a pizza?
- Sim. - Ela responde
sem olhar para o namorado.
O interfone toca, Alice
se levanta, tira o telefone do gancho e dispara uma preguiçosa saudação:
- Alô? Pode mandar
subir.
Alice pula no sofá, por
um instante um filme passa em sua cabeça. Ela começa a se recordar das noites
de amor com Esteban e de como aquele rapaz é forte e intenso tão qual Daniel é
com ela. A campainha toca, Alice se levanta. Ela chega perto da porta, entretanto
ela não olha pelo olho mágico e a abre.
Seu rosto é de espanto,
sua boca seca, suas mãos tremem, suas pernas ficam bambas, Alice cai desmaiada
ao ver Esteban na frente dela. Apavorado ele coloca a caixa com a pizza de lado
e pega nos braços.
- Mi amor, acorde.
Daniel surge ao longe,
vê Esteban acariciando os cabelos de Alice, ele solta um grito.
- Ei, que porra é essa?
- Daniel corre na direção dos dois. Alice ainda permanece nos braços de
Esteban.
- Lo siento, senõr,
yo... - Tenta dizer Esteban.
- Desculpa é a puta que
te pariu. Tira a mão da minha noiva.
Esteban quer falar, mas
a voz não sai. Parece que alguém o impede de fazer isso. Ele finalmente conhece
Daniel, o homem que ela vivia falando nas noites de cigarros e cervejas entre
ele e Alice.
Capítulo
8
Daniel está em pé, de
braços cruzados e de cara amarrada quando Alice desperta de seu desmaio. Na
mesinha de centro uma caixa de pizza semiaberta, ainda intacta, já fria, ao
lado duas latas de cerveja já abertas. Alice olha por tudo, Esteban não está
mais lá,
- Por que você desmaiou
quando aquele cara apareceu? Diz-me?! - Questionou Daniel.
Ainda zonza Alice se
ajeita no sofá, precisava de uma posição mais confortável e de mais alguns
segundos para pensar em uma resposta convincente o bastante para oferecer ao
noivo. Daniel continuava a olha-la de um jeito raivoso.
- Deve ter sido a minha
pressão, sei lá, porra. Você sabe que eu sofro de ansiedade, junta essa merda
com a fome... Acho que me deu alguma coisa, não sei... - As explicações de
Alice eram desconexas.
Daniel vai até a
cozinha, abre a geladeira e de lá tira uma lata de cerveja, o barulho da lata
se abrindo é percebido por Alice.
- Ok! Depois você me
explica melhor isso. - Diz Daniel, sentando-se no sofá ligando a televisão e
botando os pés na mesinha de centro. Ansiosa com a situação, Alice sai, do bolso
do jeans rasgada ele saca um cigarro, acende-o e da uma tragada. A fumaça do
cigarro voa pelo ar, Alice encosta-se à velha maquina de lavar roupas.
Capítulo
9
É noite. Esteban
estaciona a moto na frente da pizzaria onde trabalha, é a sua ultima entrega. Ele
adentra ao estabelecimento, deixa a mochila térmica em cima do balcão, fala
algo ao dono, recebe seu pagamento do dia e vai embora. As ruas estão
praticamente desertas, a não ser pelos carros estacionados e pelas pessoas
sentadas nas mesas dos bares espalhados ao longo da avenida.
Esteban encontra uma
mesa vazia, senta-se e chama o garçom. Um rapaz baixo e com barriga
exageradamente grande se aproxima sem muita vontade.
- O senhor deseja
alguma coisa? - Pergunta o Garçom sem olhar para a cara de Esteban.
- Cer-ve-ja. – Ele
responde falando cada sílaba pausadamente.
Esteban enfia a mão no
bolso direito da calça jeans e de lá tira a pulseira que pertencia a Alice.
Precisava arranjar uma maneira de devolver para ela, não somente dar de volta
aquele simples objeto, mas sim poder vê-la, abraça-la e beija-la como nas
noites de amores intensos dos dois em terras uruguaias.
O garçom chega com a
cerveja, serve em um copo, Esteban da um longo gole enquanto admira a pulseira
de Alice.
Capítulo
10
Era uma manhã chuvosa
de uma quarta-feira. Alice acorda com o sol invadindo as frestas da janela de
seu quarto e atingindo seu rosto. São nove horas da manhã. Ela se levanta,
vestida com um pijama vermelho, os cabelos despenteados e os olhos de quem
acabara de despertar para mais um dia.
Já vestida e maquiada,
Alice vai para a cozinha onde prepara o próprio café. Com uma xícara em mãos
ela bebe um pequeno gole, deposita a xícara sobre a mesa, senta-se, corta um
pão ao meio, passa requeijão, admira o pão por um segundo e dá uma mordida.
Alice pensa na vida.
Pensa no noivo e pensa também em Esteban: será que ele ainda está no Brasil? Ou
já se mandou pra outro canto no mundo? Alice está sozinha em casa. Desempregada
ela fica responsável pelos afazeres domésticos enquanto a mãe trabalha como
enfermeira em um hospital e a irmã está na escola, no oitavo período do ensino
fundamental.
Toc toc. Alice levanta
a sobrancelha, surpresa. Quem poderia ser à uma hora dessas? Não tinha marcado
com ninguém, e não costumava receber visitas à uma hora como aquela. Caminhou
lentamente segurando a xícara de café na mão direita.
- Já vai! - Ela gritou,
após golpes insistentes na porta.
A maçaneta gira, a
porta se abre, do outro lado está Esteban, a mochila rasgada pendurada nas
costas, um cigarro preso atrás da orelha esquerda, um sorriso de cão sem dono
no rosto e os longos cabelos negros soltos no vento.
- Olá! - Ele diz.
Ela não sabe o que
fazer, mas ele sabe muito bem o que veio fazer ali. De pronto Esteban agarra
Alice e a beija. Ela tenta se afastar, porém, não resiste, o desejo é mais
forte do que ela.
Alice o empurra com
tudo, Esteban cai sentado no sofá. Ela o olha com raiva, os braços cruzados, a
cara de quem está nem um pouco satisfeita.
- Que audácia é essa,
hein? - Indaga Alice.
- No entiendo...
- Você viu a merda que
fez? Quer acabar com a minha vida, meu casamento?
- Quiero casarme
contigo- Diz ele com seu olhar de cão sem dono.
- Estou noiva. Falei-te
no Uruguai.
- Pero yo te amo. Y
nuestras noches?
Alice respira fundo,
parece que falta o ar.
- Eu não devia ter
feito aquilo. Se arrependimento matasse eu já estaria enterrada há sete palmos
debaixo da terra.
- No digas eso. Me
gustó, también te gustó.
Esteban se levanta e
vai em direção de Alice que se afasta.
- Eu amo o Daniel. É
com ele quem eu vou me casar.
- Usted não lo ama! -
Grita Esteban tentando se aproximar mais uma vez.
- Se você soubesse a
mulher que eu era antes de conhecer o Daniel e a mulher que me tornei depois
desses quatro anos ao lado, não diria uma besteira dessas.
Esteban caminha em
direção à porta da sala que está aberta. Lá fora o sol está forte. É possível
ouvir o barulho da rua, de pessoas indo e vindo, de carros entrando e saindo do
prédio, de gente conversando, e o silêncio de quem precisa muito falar, mas que
não tem nada a dizer.
- Entonces, porque se
entrego a mí? Yo te amé cada segundo. Pero por lo visto no me amaste de la
manera que te amé.
- Eu te amei sim, e por
isso eu fiquei dividida. Mas eu decidi me casar com o Daniel porque ele é o
homem da minha vida. Um cara que foi para o outro lado do mundo só pra me dar
uma vida melhor que essa que eu tenho. Você não deve saber o que é amar alguém
de verdade. Você é o típico carinha que vive levando essas garotas bobinhas pra
cama...
- Mentira. No soy de
esse tipo de hombre. – Diz ele aos berros.
- É sim. E eu fui uma
idiota de ter transado com você.
- Pero te gustó, tanto
que gritaba sin parar.
Um tapa no rosto e a
marca dos dedos de Alice estampadas na cara de Esteban que fica sem reação.
- Some daqui Esteban. -
Diz Alice aos berros enquanto empurra o segundo homem da sua vida para fora de
sua casa. A porta se fecha. Tremendo, Alice pega um cigarro, vai até a varanda,
dá uma tragada. Fumaça é jogada para ar, enquanto lágrimas escorrem
teimosamente de seus olhos.
Capítulo
11
Quando o maquiador
virou o espelho e Alice viu sua imagem refletida ela não conseguiu segurar a
emoção. A maquiagem ficaria borrada, mas poderia ser retocada, e isso era de
menos. O vestido era diferente de todos que haviam sido feitos, com detalhes em
preto, a cor favorita da noiva.
A igreja estava lotada,
convidados devidamente sentados, flores de diversas cores enfeitavam a entrada
da igreja. Silêncio, convidados se levantando de seus lugares e direcionando
seus olhares para a porta. A marcha nupcial começa a ser tocada, Alice surge
linda e deslumbrante. O pai vestido num terno bonito olha admirado para a filha
como quem diz: a minha menina está linda.
Alice da à mão para o
pai e os dois entram. No altar, Daniel sorri, lágrimas escorrem de seu rosto.
Alice sorri para os convidados. Ao chegar ao altar Alice é entregue pelo pai
que diz a Daniel:
- Cuida bem da minha
menina, Daniel.
Daniel e seu Francisco
se abraçam.
- Pode deixar seu
Francisco.
Do lado de fora com um
cigarro enfiado nos lábios e os longos cabelos presos por um elástico está
Esteban, encostado numa parede do lado de fora da igreja. Entre uma tragada e
outra ele olha para o horizonte, na esperança de que algum milagre possa
acontecer. Apesar de amar e muito Alice, ele sabe que o amor da vida dela é o
bostinha do Daniel.
Cerimônia correndo as
mil maravilhas, tudo na mais perfeita harmonia. Esteban sobe cada um dos onze
degraus que levam a porta de entrada da igreja. Ali ele para por um instante,
observa as pessoas hipnotizadas com as palavras do padre.
- Alice da Silva, você
aceita Daniel Ventura como seu legítimo esposo?
Alice respira fundo,
seu coração parece querer pular do peito.
- Sim, eu aceito.
Com o sim de Alice o
casamento estava sacramentado. A união do amor, da amizade e do companheirismo
agora seria até a morte.
Esteban vira-se,
contempla a fachada dos prédios a sua frente e desce lentamente cada um dos
onze degraus que o levarão para a rua. Enquanto desce um filme passa por sua
cabeça. Ele se recorda dos abraços de Alice, dos beijos e das noites em claro
em que eles dividiram cigarros e seus corpos, no entanto isso não aconteceria
mais.
Dentro da igreja, Alice
e Daniel trocam um beijo apaixonado. Os convidados sorriem. Já na rua,
enfeitada apenas por carros estacionados está Esteban, a mochila nas costas, o
cabelo, agora solto, balançando contra o vento, ele para e da uma breve olhada
para trás vendo Alice e o noivo felizes.
- Te amo! – Ele diz
indo embora de uma vez por todas.
Fim!!!
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