- Volte aqui seu
irresponsável!- Lucas correu o mais depressa que pôde. Atrás dele, o padrasto,
armado de faca e com os olhos injetados de sangue e fúria. No rosto gotículas
de sangue e um sorriso maquiavélico se desenhava fantasmagoricamente. Lucas
tremia, respirava com dificuldade e mal sabia o que fazer naquele momento. Como
poderia lutar contra aquele monstro se não tinha arma alguma para tal?
Encaminhou-se para
floresta. Esconder-se-ia detrás de árvores e ali esperaria o assassino ir
embora. Pobre Lucas, quatorze anos, espinha enfeitando a cara e hormônios a
flor da pele. Sonhava com meninas e pensava estudar arquitetura na universidade
perto de casa. Mas o destino lhe fora cruel.
Viu o pai ser
assassinado quando tinha cinco anos de idade. De chupeta na boca não
compreendeu quando uns homens vestidos de cinza derrubaram a porta de sua casa,
tiraram o pai que assistia televisão na sala, o levaram para fora e sem
explicações lhe deram três tiros. A mãe, uma dependente química ficou sabendo
da notícia, mas lotada de cocaína pouco se importou; Lucas ficou sozinho em
casa, chorando, enquanto o pai morto olhava pra ele com os olhos vidrados.
E não demorou muito
tempo para a mãe de Lucas surgir com outro homem. Lucas, agora com sete anos
ganharia irmãos e sua vida se transformaria em um verdadeiro inferno. O
padrasto, um bebum fedido e ignorante entraria na vida da família para castigar
os filhos e espancar a mulher, e ai daquele que ousasse dedurar seus feitos
horrendos a polícia.
Por tantas vezes Lucas
tentou fugir. Mas a pedido da mãe o padrasto ia atrás do enteado e o achava, e
quando era encontrado levava uma surra, tão forte que o menino ia para escola
cheio de hematomas. Como desculpa dizia ter caído em casa, infelizmente para
ele todos acreditavam até mesmo os professores.
Foi até estranho quando
o padrasto deixou de beber e por consequência as surras tiveram um basta. Mas
não durou muito. Convidado para ir a uma festa, o padrasto bebeu além da conta
e ao voltar para casa deu de cara com a mulher cavalgando em cima de outro
homem. Enfurecido ele foi embora.
Ninguém soube durante
meses sobre o paradeiro do homem. A mãe continuou dando suas escapadas, e Lucas
retomou sua vida normal. Tudo parecia estar em paz, quando padrasto retornou,
armado de faca e de fúria. A primeira vítima foi à filha de cinco anos. A
menina que ninava a boneca foi atingida com três facadas. Depois foram os dois
irmãos, ambos esfaqueados até a morte. Ele pouco se importou com os corpos dos
filhos pequenos espalhados pela casa, a filha menor agarrada à boneca o olhava
de olhos vidrados, os filhos homens também. E ficou ali, sentado em uma velha
cadeira de metal, de pintura descascada, com o olhar perdido no horizonte,
enquanto passava a língua pelos lábios; parecia faminto, ávido por vingança.
- Amélia? Renato?
Tadeu? – Era a voz da mãe chamando pelos filhos que não poderiam responder,
estavam mortos. Ao notar a presença da esposa o padrasto escondeu-se. De costas
ela entrou e logo em seguida pisou em algo estranho, era a cabeça da filha, ao
perceber e visualizar tal cena gritou tão forte que pôde ser ouvidos a milhares
de quilómetros de distância.
Como fosse um fantasma
o padrasto surgiu, seu rosto estava com sangue e seus olhos injetados de ira
olhavam para a mulher.
- Assassino! – Gritou
ela. A voz rouca e o coração despedaçado. De faca em punho ele atacou. Em
principio ela conseguiu se desvencilhar, mas foi por pouco tempo. Cada estocada
da faca acertava em cheio, fazendo sangue jorrar por todos os lados.
Lucas chegava da escola
em silêncio como sempre fazia, e pela janela ele viu aquilo que nunca na vida
desejava ver, toda a família morta. Ficou ali petrificado. O padrasto virou o
rosto num instante visualizando Lucas.
- Vou acabar com a tua
raça, seu maldito! – Disse o homem se levantando e partindo atrás do menino.
Com o coração disparado
e tremendo muito ele encontrou forças para fugir. Embrenhou-se entre folhas e
arbustos e ali ficaria até o padrasto se cansar. E se ele não ficar esgotado? O
que faria? Morreria.
- Volte aqui seu
irresponsável! – Finalmente Lucas e o padrasto estavam um de frente para o
outro. O velho sujo de sangue e arma em punho. Lucas abaixado recuava
lentamente enquanto seu oponente avançava. Com as mãos tateou a terra e as
folhas jogadas no chão na esperança de achar algo que lhe servisse como arma,
mas sua busca foi em vão. E a cada passo dado pelo padrasto o corpo de Lucas se
contraia.
Foi quando ele se deu
por vencido, fechou os olhos e aguardou pelo pior, sua morte. O padrasto se aproximou
e se abaixou e ficou olhando para ele, com a faca ensanguentada acariciou o
rosto do menino.
- Vou te matar! – Falou
o velho puxando a faca para o alto.
- Mate-me então! –
Falou o menino com voz firme e decidida.
De repente Lucas viu a
expressão de o padrasto mudar, de outrora um rosto diabólico para uma aparência
de medo, ele estava sofrendo um ataque cardíaco. Lucas ficou em pé observando
aterrorizado a cena. As mãos do homem ficando fracas deixando a faca cair no
solo para desabar em seguida de olhos vidrados.
FIM!!!
Comentários