- Eu te odeio! Eu te
odeio. – Os gritos de Ana Clara eram carregados de dor. Uma angústia que ela
nunca havia experimentado antes. Um sentimento ruim que corroía tudo por dentro
igual ácido sulfúrico. Ana Clara estava trancada em seu quarto de criança,
sentada no chão enquanto apertava contra o peito seu enorme cachorro de
pelúcia; o brinquedo fora um presente do pai, e aquilo tinha sido a única boa
lembrança que ela possuía dele antes de ele ter se transformado em um monstro,
assustador e cruel.
Eram anos de desespero.
De noites mal dormidas, de pesadelos constantes e de arrepios sem fim na
espinha. Ana Clara estava cansada, debilitada física e mentalmente. Ela nunca
se acostumou com o pai que a botava na cama, lhe cobria, dava um beijo de boa
noite e antes de fechar a porta do quarto dizia baixinho:
- Papai já volta. –
Como Ana Clara odiava ouvir aquilo. Por vezes ela pensou em se jogar pela
janela, mas ela não queria sair como a derrotada da história. Suportaria tudo
sozinha e nem ao menos a mãe ela contaria.
E quando o silêncio em
casa fazia os passos do pai ela ouvia indo em direção ao seu quarto. E tudo
começava com um beijo no pescoço, que coisa nojenta; com um carinho no seio,
ela ficava apavorada, mas quando ele pedia para que ela abaixasse a calcinha,
era aí que Ana Clara se contraia e tentava fugir, mas não tinha como; ela tinha
somente quinze anos e não sabia se defender. Essas violações se repetiriam por
meses. Todos os dias. Bastava à mãe pegar no sono para o pesadelo começar, e
tudo sendo assistido pelo enorme cachorro de pelúcia de olhar triste e vazio.
Entretanto, Ana Clara
poria um fim nisso. Uma noite antes de ir se deitar foi até a cozinha e
sorrateiramente pegou e escondeu o abridor de vinhos do pai dentro da blusa que
usava. Foi para o quarto e lá permaneceu. Quando escutou o barulho do clique da
fechadura já sabia de quem se tratava. Com destreza escondeu o abridor embaixo
no travesseiro.
- Oi? – Era seu pai. Quando
a porta do quarto se fechou o coração de Ana Clara quase pulou do peito.
O desgraçado se
aproximou lentamente, sentou a lado da filha e abraçou fortemente; por um
momento ela pensou que se tratava de um gesto reconfortante, mas não era.
- Agora você vai tirar
essa calcinha e ficar quieta. – Ordenou o pai enquanto tirava as calças.
Ana Clara obedeceu e se
deitou ficando na posição preferida do pai. Ao sentir ser penetrada ela também
o penetrou, mas no pescoço e por várias e várias vezes; foram seis golpes
certeiros até ele não conseguir reagir mais e cair morto fora da cama.
- Eu te odeio! Eu te
odeio. – Ana Clara gritava de desespero. O cachorro apertado contra o peito e
uma sensação de alívio. O pesadelo tinha acabado.
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